30.11.06

para grandes males grandes remédios:

versos em pequeno na cabeça das ideias em coisas vagas.

27.11.06

hoje, dia de todos os demónios
irei ao cemitério onde repousa Sá-Carneiro
a gente às vezes esquece a dor dos outros
o trabalho dos outros o coval
dos outros


ora este foi dos tais a quem não deram passaporte
de forma que embarcou clandestino
não tinha política tinha física
mas nem assim o passaram
e quando a coisa estava a ir a mais
tzzt... uma poção de estricnina
deu-lhe a moleza foi dormir


preferiu umas dores no lado esquerdo da alma
uns disparates com pernas na hora apaziguadora
herói à sua maneira recusou-se
a beber o pátrio mijo
deu a mão ao Antero, foi-se, e pronto,
desembarcou como tinha embarcado


Sem Jeito Para o Negócio



MÁRIO CESARINY

26.11.06

Quando lhe perguntaram o que era isso de ser um homem latino, ele não se intimidou. Era mesmo latino.

Sabia perfeitamente que no mundo latino as perguntas levam sempre à filosofia, nunca se ficam por coisas, digamos, mais sensíveis como: tens ido à feira de carcavelos?

A história, apesar das aporias ("então não a punha..."), acabou bem.
Ich liebe dich nicht, du liebst mich nicht, da da da

24.11.06

You can´t be funky if you haven´t got a soul.
Se casar, em vez dum bouquet de flores levo um ramo de salsa.

22.11.06

Tenho andado a dormir a recibos verdes.

19.11.06

O seu amor parecia o Vienna Concert — shaken but not stirred.

17.11.06

o ilusionista vê pelo umbigo a luz desatada do segredo
e alguém aplaude que a desilusão enfeitiça...
Um duende nipónico, cabeça ligeiramente inclinada para o lado, desatando às flores o umbigo — um instigador de segredos.

16.11.06

agora que deixas esta casa onde nascemos,
esta rua será sempre secreta
e um homem sentado ao acontecer da noite dirá:

"são ainda as tuas mãos que aliciam a perplexidade
da infância num desenho a cores"
Agarrei-me ao que podia, para começar. Depois, sequei algumas palavras e as ruas começaram a abrir-se. Fartei-me de andar. Quero dizer, sobre as águas. Fartei-me de sair da aflição.

14.11.06

somos apenas o silêncio conceptual
desse labirinto que é a matéria do sono.

o que acordamos de dia para dia
é apenas a insónia de um plágio.

13.11.06

Piquenas máximas termostáticas:

1) Transsexual é uma pessoa que se transforma na cama.
2) Confirma-se: há pessoas que pela frente são uma coisa e por trás são outra.
3) Amemos as pessoas que dançam com a mão no ridículo.
O que te safa do cancro do pulmão é esse sorriso indescritivel.

11.11.06

Adventus:

Qual é o mapa da nossa ficção?
Adversus:

Fomos os estrategas do desejo no rascunho do nosso corpo.
O advérbio de qualquer modo é um desnível na cidade, algo que se ultrapassa assinando por baixo e acrescentando: mente.

9.11.06

o manifesto do teu nome será esse poema
dos quotidianos actos de uma lâmpada.

7.11.06

Avivam-se as estrelas incendiárias ao céu da boca,
grandes incêndios falam do que vêem arder...
É polémico que se possa escrever. É polémico que haja cordas. É polémico que um homem e uma mulher possam ver-se.
Não há corda que se torça mais do que esta,
a que estrangula o teu coração.

6.11.06

A janela escancarada pelo relâmpago, os tambores permanentes — vivemos o frio da navalha.

5.11.06

Movo um lugar de silêncio.

3.11.06

Há coisas que não chegam nunca a ser.
as coisas são só exactamente o que delas dizemos.
o resto, somos nós a entornar copos e a desordená-los
na boca para que as palavras não faltem.
Respira, repara no relógio que parou, respira, respira, o contra-relógio não pára.

2.11.06

abro a porta ao desastre do meu corpo.
estou inocente.
E mantém-se imóvel, no sofá, como que
pedindo tempo para sarar a sua ferida.
porque percorremos tantos dias sem sair daqui?
Há na vulgaridade um gosto amargo a felicidade.
Deixei de conseguir imaginar o sono fora do teu corpo.
nesta hora há: que a imagem a

c
a
i
r

do sono é ainda mais nítida...

1.11.06

o crime era esse, desviares-te da morte para o abismo dos dias.
A testemunha, a meio do crime, mordida por um lacrau.
No retrovisor do desastre eu vi um amor que chegava.